terça-feira, 25 de agosto de 2009

Sobre meu pai, mudanças e uma casa muito engraçada.

O dia mais feliz de que me lembro foi o dia em que ganhei um colchão novo.
Isso porque, até então, eu estava dormindo num colchão que tinha mais de 25 anos... era do tempo em que a minha avó ainda era viva.

Aliás... TUDO que tem na casa do papai é daquele tempo.A mobilia mais parece remontar à época de D. Pedro II. Isso sem falar de revistas, jornais, livros... todos bem mais velhos que eu.


Claro que tanta velharia amontoada numa só casa acumula muita poeira e mofo.

Mas depois da terceira semana, você se acostuma até com os cocôs dos morcegos, que figuram salpicados pelo corredor. (não adianta limpar; eles fazem tudo de novo.)

Meu primeiro dia aqui foi punk!
Havia sido despachada de Brasília para poder fazer inscrição na Belas Artes. Após alguns percalços burocráticos, lá estava eu, matriculada inesperadamente, às vésperas do início das aulas, sem fazer a menor idéia de onde iria morar. (a casa da minha mãe era longe.)

Bom... a casa do meu pai, também... mas foi a melhor opção que nos ocorreu.(Na verdade, a única.)

Depois da façanha de entulhar as tranqueiras dos meus dois quartos dentro de um fusquinha, mamãe tocou o pé pra cá. Descarregou minhas traquitandas e alguns mantimentos.
Manobrou, e foi-se embora.

Fiquei ali, meio perdida, ainda segurando a última mala, vendo o carro da mamãe ir embora.
E teria continuado ali por inércia, se meu pai não tivesse me chamado para ver meu novo quarto.

Aliás, o melhor dos seis quartos da casa!

Infelizmente, o melhor quarto da casa não era o melhor quarto do mundo.

Havia um guarda-roupas mofado, cheio de roupas velhas e mofadas dentro. E uma cômoda velha e mofada, cheia de papéis velhos e mofados dentro. E também um espelho velho e grande pendurado na parede. Na velha cama, se estendia um colchão velho, rasgado, mofado e fedidinho.(isso explica a minha alegria ao receber um colchão novo.)

E iniciou-se uma verdadeira guerra ao mofo, ao pó e ao mau cheiro que ali reinavam, e eu temia ter como companheiros de quarto.

Ápós uma ligeira varrida, tirei do chão três pás de poeira sólida. E a toalha branquinha que eu havia levado para limpar o guarda-roupas ficou irremediavelmente negra e encardida, sendo fadada a terminar seu dias como pano de chão.

À noite, o cheiro do colchão me incomodava e me fazia querer voltar pra casa da mamãe. (pensando melhor... nããão...)

No dia seguinte, não pude deixar de notar alguns probleminhas técnicos da casa. A torneira da cozinha vertia um filete tão mixo que eu demorava meia hora só para lavar a louça do almoço.

Aliás, falando em louça... era preciso levar toda a louça para a mesa toda vez que chovia, porque tinha uma goteira que caía no canto da pia onde ela costumava ficar.
O problema não era a água pingar. Era o cocô dos ratos, que forrava o forro da cozinha, e por onde a água obrigatoriamente passava antes de verter em pingo.

O banho era um capítulo à parte. Havia um incômodo filete de água fria que caía do chuveiro e batia no cangote quando eu tomava banho. Com o tempo, descobri que o melhor jeito de minimizar o incômodo causado pelo filete gelado era chuveirar-me de costas para a porta, que, aliás, não fecha sem a ajuda de uma CADEIRA. (!)

Mas... como eu já disse, a gente se acostuma.

Até com o silêncio do meu pai, que prefere ficar de boca fechada do que falar merda, e prefere dar as costas e fugir pra não ouvir as minhas merdas do dia-a-dia que tenho para contar.

Guardar tudo comigo é uma coisa que ainda estou aprendendo. Talvez, também por isso, criei este blog. Não interessa se ninguém vai ler essa bagaça... o que eu preciso é falar... ou escrever.
Tenho saudade da minha mãe, dos meus amigos, do meu cachorro...

Mas tenho consciência de que é uma nova fase, que tenho que encarar se quiser alcançar meus sonhos.

Pouco importa que alcançar o que se quer e ser feliz sejam coisas tão distintas entre si.

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