terça-feira, 18 de agosto de 2009

Sobre a criação dos personagens de Daydream


Saudades do tempo em que eu me reunia na hora do recreio com a galerinha do mal para escrever o roteiro de histórias em quadrinhos.

Note-se que apesar de estar na faculdade, insisto em dizer "recreio", e não "intervalo". Quando passam para o colegial, as pessoas parecem ter certa aversão por termos presentes na fala do ensino fundamental. Mas nós não ligávamos (muito )para essas coisas infantis! Queríamos apenas passar nossos recreios felizes, imaginando aventuras sobrenaturais e nos transportando para outras realidades... (e daí, se isso também é infantil?!)

Era só dizer que tinha uma história em mente, e alguns se voluntariavam a participar como personagens. E iniciava-se a etapa de criação de bonequinhos toscos. (eu desenhava muuuuuuuuuuuuuuuuuuuito maaaaaaaaaal!!!!)

Pitacos depois, (quero meu cabelo loiro, meu olho verde, ser alto, forte, bonito, todas as gatas vão gamar em mim...) o personagem ganhava corpo.

Outros pitacos mais (serei frio, distante, enigmático, e todas as gatas vão gamar em mim) e o personagem ganhava uma personalidade.

Após os pitacos finais (quero poder voar, abrir fendas na terra, controlar o fogo, a água e o gelo -que, afinal, não passa de água dura-, poder curar as pessoas e fazer todas as gatas se gamarem em mim.), o personagenzinho, enfim, tinha forma (meio defeituosa, pela escassez de conhecimentos em anatomia), personalidade (de sobra!) e poderes.(Mais de sobra ainda!)

E, após catalogar seis ou sete (no começo eram bem mais) seres nesses moldes, tínhamos um núcleo de telenovela.

Isso sem falar que eu "roubava" a personalidade de pessoas sem que elas soubessem para colocá-las nas minhas criaturinhas. (depois, elas acabaram percebendo.)

Com tanta variedade naquele mangá, o resultado de tanta gente dando pitaco numa coisa só poderia dar numa salada! Às vezes, eu ignorava todos os palpites, e tomava as rédeas da coisa:" Fodam-se! Agora vai ser do MEU jeito!". Aí, é que as coisas ficavam ainda mais confusas.

Hoje, leio Daydream e não entendo nada. A história parece vagar sem rumo, demora para saber quem é o personagem principal (obviamente, eu), que se revela meio emo e depressiva (reflexos da fúria adolescente) e os personagens tinham queixos grandes demais, os braços pareciam salsichas dobradas, as roupas não tinham caimento e , não raro, estavam zaroios.

Mas guardo cada página como se fosse um filho, fruto de uma das épocas mais marcantes e intensas da minha vida.(não imaginem como poderia ficar trancada no quarto desenhando mais de duzentas páginas ser uma coisa intensa. Vocês não iriam me entender.)

Verena, Felipe, Leandro, Narlir, Mie... valeu pela força.

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