quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Sobre a caduquice do Natal.




Querido Papai Noel,

Eu sei que o Natal já passou, por isso, resolvi escrever esta cartinha só agora, que o senhor deve estar mais desocupado.

Não que eu pense que vida de Papai Noel seja só fazer bico de Finados até o Natal, e depois ficar na vida mansa! Longe de mim essa idéia...

Eu sei que deve ser duríssimo administrar a fábrica de brinquedos, controlar os gnomos insubordinados, achar comida para as renas em meio à neve infértil da Lapônia (Ou Polo Norte... sei lá onde o senhor mora. Talvez por essa inexatidão geográfica o senhor não tenha recebido as 15 cartas que lhe mandei até agora.)

Enfim... ainda ter que aturar a Mamãe Noel, que, se caminha no mesmo passo que o senhor, anda descambando para a caduquice. E fazer bico como garoto-propaganda da Coca-Cola, contracenando com os últimos ursos polares inextintos.

Vida dura.

Enfim... mandar cartinha pra celebridade no vuco-vuco de dezembro não é lá uma boa idéia.
Principalmente porque em dezembro, ninguém tem tempo pra ninguém.

Uns correm para comprar coisas, outros correm para produzir coisas, contrabandear coisas, vender coisas... e o que era pra ser um mês dedicado à reflexão, à amizade, confraternização, amor,escambau... acaba virando o mês do comércio.

Escrever as próprias cartas?! Ninguém tem tempo pra isso! Pra isso inventaram aqueles cartões de papelaria,com sentimentos natalinos sintetizados em jargões. Não raro, acompanhados de ilustrações fofas.
Perfeito para quem, além de escrever, também não quer perder tempo desenhando.

Bom... quando eu disse que o senhor anda caducando, não disse isso por causa da sua idade.(Afinal, desde 1800 e bolinhas, o senhor já era velho e gordinho.)

Disse isso porque, em vez de aparecer na casa das crianças pobres, o senhor só quer saber de ficar sentado em shopping de gente rica.
Assim, vai ficar obeso!
Só pegando as crianças no colo, depois soltando... não dá mais presente pra ninguém...
(Além de gordo, ainda é muquirana!)

A última novidade que vi no Shopping Boa Vista foram duas Bisnetinhas-Noel, garotas boazudas recém-saídas da adolescência que, pernas à mostra, buscavam atrair a atenção de quem não é muito chegado a sentar no colo do velho lapão.
(De quem nasce na Lapônia...)

Não, não é o senhor.
É o MUNDO que anda perdendo a noção e ficando cada vez mais caduco!

É tanta baderna na festa no Natal que o aniversariante só é invocado às preces para ajudar a resolver os grilos natalinos.

Acho que esta carta está ficando meio amargurada...
Talvez por causa das poucas e más experiências que tive com o senhor na infância.
(O único brinquedo que o senhor me deu- uma Barbie do Paraguai- perdeu a perna tão-logo foi tirada da embalagem.)

Mas , afinal, não foi pra desabafar que eu lhe escrevi.
Como todo mundo, escrevi para pedir presente.

Nada material...

"Apenas" um tablete para desenho, um X-box 360, um jogo de aquarelas Winsor e Newton e uma Barbie de verdade (pra compensar aquela da perna quebrada.)

Entrei em contradição?!
A eterna caduquice do universo.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Sobre famílias, seus moldes e seus limites.



Minha adolescência foi assombrada por diversos fantasmas... espinha no nariz, provas, simulados, briguinhas na escola, complexos com a aparência... Mas nada me incomodava tanto como os velhos do mercado.

Tudo começou num daqueles debates em sala de aula.

Lemos um texto que tratava de filhos de pais separados. Eu ouvia a tudo aquilo com a indiferença de quem diz: "ainda bem que não é comigo...
Achava todos aqueles debates "polêmicos"(bah!) um saco!

Foi quando a professora perguntou quem, da sala, era filho de pais separados. Uma garota levantou a mão.

E minha amiga, também, só que para me apontar:

--A Isa! A Isa é filha de pais separados!

Anh?! Eu?!?! Mas que idéia absurda!

--Não... Meus pais não são separados.--protestei.

--São, sim! Você mesma me disse que seu pai só vai na sua casa aos domingos... e eles nem são casados na Igreja!

Meus amigos apoiaram o argumento.

E o meu mundo caiu. Eu tinha, então, treze anos.

Eu sempre fui meio neuradinha com as coisas, e , naquele momento, toda a minha neura se voltou para esta questão.Começaram a me perguntar como eu reagiria se minha mãe se casasse com outro cara, diziam que era horrível ter madrasta, escambau, e tals...

Que besteira! Isso não ia acontecer! ...Ou será que ia?!
Aimeudeus, o que eu faço se acontecer?!

Meu pânico só aumentou quando percebi que o charme simples de minha mãe parecia atrair a atenção de alguns velhos, no supermercado.

Ela nem percebia, concentrada nos preços, nas contas,nas prateleiras... mas eu, sim! Percebia, e muito bem!

E os velhos (Tinha uns 5 ou 6 deles) a seguiam, vez ou outra, pelos corredores.

Desde então, seempre que eu podia, eu acompanhava minha mãe às compras, a fim de espantar qualquer um que ousasse lançar os olhos sobre ela.

E tive trabalho! Era só ver um deles se aproximar comentando que "o feijão subiu...." ou qualquer papo de mercado para que eu começasse a falar que "o PAPAAAAI (fique claro: Ela é MINHA mãe, e eu tenho um pai, viu?) gosta de feijão com farinha, ou qualquer outro comentário retardado que afugentasse o cara.

Os mais tímidos, a seguiam da sessão de ervilhas até o açougue. Com esses, era mais fácil. Era só mandar uma fusqueta que eles vazavam.

Tive pesadelos, em que meu quarto de bagunças agora pertencia a um daqueles velhos do mercado, que queimava todas as minhas traquitandas e prometia me "botar na linha."

E perdia tempo pensando quando foi que as coisas começaram a dar errado com meus pais. Afinal, antes de me dizerem, eu não havia percebido que meus pais eram, de fato, separados.

Com o tempo, esses pensamentos foram sumindo da minha cabeça.

E quando isso aconteceu, percebi o quanto fui escrota, egoísta, idiota...

Primeiro, porque eu não tinha o direito de querer decidir qualquer coisa pela minha mãe, porque gosto dela, e quero vê-la feliz.

Segundo, que eu não deveria dar ouvidos ao que as outras pessoas diziam sobre minha própria família. Não estávamos estruturados à maneira tradicional... Mas quem disse que unidades familiares que fogem do padrão deixam de ser verdadeiras?!

Porque éramos e ainda somos uma família. Esquisita, mas uma família, e funcionamos muito bem em nossa (des)organização.

Hoje, moro com meu pai. Sinto falta da mamãe, porque só a vejo de vez em quando.

Mas isso não importa, porque família não é só quem mora perto da gente, mas também quem mora no nosso coração.

Tenho dito.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Sobre pequenas decepções cotidianas.(Fuéééé...)

É como eu sempre digo: "fuééé...".

Pra quem não sabe, eu tenho soltado um "fuééé" para cada uma das pequenas decepções cotidianas que nos acontecem durante os dias.
Por isso, falo "fué" milhares de vezes ao dia, passando o "fué" a constituir dois terços do meu vocabulário.

É isso. A vida é cheia de desilusões. Umas maiores, outras menores. E, sem mais delongas, aqui vai um TOP TOP com as MAIORES PEQUENAS DECEPÇÕES COTIDIANAS DAS MINHAS ÚLTIMAS SEMANAS!!!

1)O FUÉÉÉ DO SÉCULO!
Abri o ORKUT e vi um depoimento de uma grande amiga dos tempos de escola, mas que anda meio sumida.
Pensei: "Oh! Que bom! Ela se lembrou de mim!"

Pelas primeiras linhas percebi que era o convite para o aniversário do Henrique.
Parei um tempo para tentar lembrar quem diabos era Henrique, afinal... e me veio à cabeça a imagem de um daqueles meninos que não falavam com a turma dos mais feiosos e/ou nerds.

Pensei: "Oh! Puxa! Quanta consideração!" (Embora começando a achar estranho.) Continuei a ler: "Contamos com sua presença!"
"OoOooHhh... Ti miguxa MmaAaAiXxx FfoOfFaAa CuTticUtTiIiI..."_ pensei antes de ler a última linha que dizia:

"30 REAIS + REFRI + BREJA. "

Fuééé...tá explicado! T_T

2)CATUPIRY ALIENÍGENA
O catupiry do lanche do terminal tem gosto de plástico queimado com mostarda, e coloração levemente esverdeada.
Fuééé...

3)PISAR NA BOSTA EM SANTO AMARO.
A embreagem do busão pifou na frente do cemitério de Santo Amaro.

Descendo do coletivo para pegar outro, piso numa bosta de cachorro (ou de mendigo, que lá tem às pampas... prefiro não pensar nisto.) , e depois, num pedaço de lanche meio mastigado que rolava na calçada, e ainda tomo um puta susto com o tio de voz tenebrosa que dizia: "OoOolhAa Ooo CchHoOoOcOoolAaaate..."
Fué....

4) ESTE CASTELO AINDA SERÁ FUÉ... FUÉÉ... FUÉÉÉ...
Fui procurar uma galeria de arte sem o endereço da dita cuja, e , como não podia deixar de ser, acabei vagando pela rua errada. Fué.

Estava eu na minha segunda subida quando encontro, no melhor estilo bermududo de quem vai à padaria comprar pão, ninguém menos que PASCHOAL DA CONCEIÇÃO!
(silêncio...)
Se eu disser "Doutor Abobrinha" ajuda, né! (Que dó do cara...)

Ele deve ter lido na minha testa que fez parte da minha infância e me cumprimentou, meio ressabiado e com sorriso amarelo, talvez com medo de que eu fosse dar um gritinho estérico e pedir autógrafo.
Mas Doutor Abobrinha é do mal, e, portanto, não digno de gritinhos estéricos, nem nada disso!
Deixei-o ir após retribuir o "oi".

O que há de "Fué" em tudo isso?!?!
Justamente ter deixado ele ir! Eu viveria mais feliz se o tivesse arrebanhado pelo braço e suplicado:

"DOUTOR ABOBRINHA!!! Por favor! Diga que AQUELE CASTELO AINDA SERÁ MEU! BWA-BWaAaAaAA!!!!"

Fuéééé...